Onde pequenas cidades estão encontrando oportunidades com moedas virtuais

As moedas digitais estão abrindo espaço para novas formas de desenvolvimento econômico regional, inclusive em cidades que não são consideradas grandes centros urbanos. O que antes era visto como uma tecnologia para o futuro, hoje já tem resultados práticos em lugares com menos infraestrutura.

E esse movimento vem ganhando destaque em municípios que buscam autonomia e inovação em meio às desigualdades regionais.

A tecnologia, seja ela aplicada às finanças, à saúde ou qualquer outra área que implique no dia a dia dos cidadãos, sempre chega de uma forma disruptiva. Quando não estamos acostumados com uma forma diferente de fazer atividades cotidianas, costumamos tomar um tempo até experimentar novas experiências e mudar o nosso estilo de vida. Esses cenários abrem espaço para experimentações locais e oportunidades de inclusão digital até em regiões com pouca conectividade.

O que são as moedas virtuais

As moedas digitais surgem exatamente nesse cenário. A evolução de um dinheiro físico, controlado por bancos e organizações financeiras que já existem há muito tempo, para um dinheiro digital, que tem uma configuração totalmente descentralizada, pode ser criado instantâneamente e acessado por qualquer um que tenha internet, revolucionou o mercado e hoje fazem parte de estratégias de rendimento financeiro.

Esse dinheiro digital funciona dentro de um sistema chamado blockchain, uma espécie de banco de dados por onde as transações acontecem e podem ser acessadas por qualquer um, sem nenhuma entidade que precise fazer o intermédio das operações. É justamente essa ausência de intermediários que reduz custos e facilita a inclusão de populações antes excluídas do sistema financeiro.

A evolução do Bitcoin e a chegada de outros ativos

A chegada do Bitcoin foi surpreendente. Lá atrás, em 2009, a primeira moeda digital criada pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto era vista como uma curiosidade entre as pessoas que se interessam ou fazer parte do ramo da tecnologia, negociada por centavos e marcada por sua proposta revolucionária: um dinheiro descentralizado, livre do controle de governos e bancos.

Ao longo da década seguinte, o valor do Bitcoin disparou em ciclos de alta e queda: em 2017, atingiu pela primeira vez a casa dos US$20 mil, chamando atenção de investidores institucionais e da mídia. Já em 2021, impulsionado pela entrada de grandes empresas, como Tesla e PayPal, e pela adoção crescente em países em desenvolvimento, subiu para US$60 mil, consolidando-se como o principal representante do universo cripto. Este ano, mais um número marcante foi alcançado: depois da queda do dólar, o ativo bateu um novo recorde, valendo mais de US$109 mil. Esse salto fortaleceu a percepção de que as moedas digitais têm potencial tanto para investimento quanto para uso cotidiano.

Como as criptomoedas movimentam a economia de pequenas cidades

Por muito tempo, as inovações financeiras pareciam restritas aos grandes centros urbanos. Afinal, são neles que as novidades chegam primeiro e é onde a taxa de escolarização, o acesso à internet e a familiaridade com tecnologia tendem a ser maiores. Esses fatores ajudam na disseminação de conceitos como blockchain, criptomoedas, ativos digitais e finanças descentralizadas.

Se antes as inovações financeiras pareciam um privilégio das grandes cidades, hoje as moedas digitais oferecem a chance de inclusão onde o acesso a agências bancárias é escasso, as tarifas são altas e os serviços são burocráticos, como pequenas cidades. As soluções digitais abrem um caminho mais direto, acessível e barato. Muitas prefeituras menores estão promovendo cursos gratuitos para ensinar o uso de carteiras digitais e constroem redes de pagamento próprio, apoiando o comércio local.

Cidades brasileiras como Maricá (RJ), com sua moeda digital social Mumbuca, e outras como o município de Santo Antônio da Alegria, que anunciou a criação da sua própria criptomoeda denominada “Alegria”, mostram como a tecnologia pode ajudar a dinamizar a economia local, estimular o consumo e fortalecer redes comunitárias. No caso de Maricá, a circulação da Mumbuca já representa um movimento de mais de R$ 20 milhões ao ano, segundo dados da prefeitura, com impacto direto em pequenos negócios.

Novos usos em saúde e educação

Além dos setores econômicos tradicionais, projetos-piloto estão usando tokens para incentivar práticas sustentáveis na agricultura familiar, bolsas de estímulo para estudantes que mantêm frequência escolar e microcrédito comunitário para empreendedores locais.

Em algumas cidades do Nordeste, programas sociais estão vinculando a entrega de recursos digitais ao cumprimento de metas como vacinação e frequência ao posto de saúde, promovendo engajamento e responsabilização cívica.

Desafios à frente

Mesmo com resultados positivos, existem dificuldades a superar. Conectividade ainda é precária em muitas localidades e a educação digital precisa ser contínua.

Sem a inclusão digital plena, há risco de acentuar desigualdade, transferindo mais benefícios para quem já tem acesso.

Além disso, a regulação ainda é incipiente, e controles sobre lavagem de dinheiro e evasão fiscal precisam ser aprimorados para que as criptomoedas não virem fontes de riscos para administrações públicas menores.

O que vem a seguir?

A tendência, a médio prazo, é que mais municípios criem tokens próprios para fortalecer economias regionais, com mecanismos transparentes e integrados a sistemas tradicionais.

Alguns consórcios de cidades já discutem modelos compartilhados de criptoativos locais, com governança coletiva e suporte técnico de universidades estaduais.